Cristo
quis nascer pobre, escolheu pobres para seus discípulos, fez-se
servo dos pobres e de tal forma quis participar da condição deles,
que declarou ser feito ou dito a ele mesmo tudo quanto de bom ou de
mau se fizesse ou dissesse aos pobres. Deus ama os pobres, também
ama aqueles que os amam. Quando alguém tem um amigo, inclui na mesma
estima aqueles que demonstram amizade ou prestam obséquio ao amigo.
Por isto esperamos que, graças aos pobres, sejamos amados por Deus.
Visitando-os, pois, esforcemo-nos por entender os pobres e os
indigentes e, compadecendo-nos deles, cheguemos ao ponto de poder
dizer com o Apóstolo: Fiz-me tudo para todos (1Cor 9,22). Por este
motivo, se é nossa intenção termos o coração sensível às
necessidades e misérias do próximo, supliquemos a Deus que derrame
em nós o sentimento de misericórdia e de compaixão, cumulando com
ele nossos corações e guardando-os repletos.
Deve-se preferir o serviço dos pobres a tudo o mais e prestá-lo sem
demora. Se na hora da oração for necessário dar remédios ou auxílio
a algum pobre, ide tranquilos, oferecendo a Deus esta ação como se
estivésseis em oração. Não vos perturbeis com angústia ou medo de
estar pecando por causa de abandono da oração em favor do serviço
dos pobres. Deus não é desprezado, se por causa de Deus dele nos
afastarmos, quer dizer, interrompermos a obra de Deus, para
realizá-la de outro modo.
Portanto, ao
abandonardes a oração, a fim de socorrer a algum pobre, isto mesmo
vos lembrará que o serviço é prestado a Deus. Pois a caridade é
maior do que quaisquer regras, que, além do mais, devem todas tender
a ela.
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