Inácio
gostava muito de ler livros mundanos e romances que narravam supostos
feitos heróicos de homens ilustres. Assim que se sentiu melhor, pediu
que lhe dessem alguns deles, para passar o tempo. Mas não se tendo
encontrado naquela casa nenhum livro deste gênero, deram-lhe um que
tinha por título A vida de Cristo e outro chamado Florilégio dos Santos,
ambos escritos na língua pátria.
Com a leitura freqüente desses livros, nasceu-lhe um certo gosto
pelos fatos que eles narravam. Mas, quando deixava de lado essas
leituras, entregava seu espírito a lembranças do que lera outrora; por
vezes ficava absorto nas coisas do mundo, em que antes costumava pensar.
Em meio a tudo isto, estava a divina providência que, através dessas novas leituras, ia
dissipando
os outros pensamentos. Assim, ao ler a vida de Cristo nosso Senhor e
dos santos, punha-se a pensar e a dizer consigo próprio: “E se eu
fizesse o mesmo que fez São Francisco e o que fez São Domingos?” E
refletia longamente em coisas como estas. Mas sobrevinham-lhe depois
outros pensamentos vazios e mundanos, como acima se falou, que também se
prolongavam por muito tempo. Permaneceu nesta alternância de
pensamentos durante um tempo bastante longo...
Até o dia em que se lhe abriram os olhos da alma, e começou a
admirar-se desta referida diferença. Compreendeu por experiência própria
que um gênero de pensamentos lhe trazia tristeza, e o outro, alegria.
Foi esta a primeira conclusão que tirou das coisas divinas. Mais tarde,
quando fez os Exercícios Espirituais, começou tomando por base esta
experiência, para
compreender o que ensinou sobre o discernimento dos espíritos.
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