Senhor,
tu sabes que naquele dia, enquanto falávamos, este mundo foi
perdendo o valor, junto com todos os seus deleites. Então disse ela:
Filho, quanto a mim, nada mais me agrada nesta vida. Que faço ainda
e por que ainda aqui estou, não sei. Toda a esperança terrena já
desapareceu. Uma só coisa fazia-me desejar permanecer por algum
tempo nesta vida: ver-te cristão católico, antes de morrer. Deus me
atendeu com a maior generosidade, porque te vejo até como seu servo,
desprezando a felicidade terrena. Que faço
aqui?
O que lhe respondi, não me lembro bem.
Cinco dias depois, talvez, ou não muito mais, caiu com febre.
Doente, um dia desmaiou, sem conhecer os presentes. Corremos para
junto dela, mas recobrando logo os sentidos, viu-me a mime a meu
irmão e disse-nos, como que procurando algo semelhante: Onde estava
eu?
Em seguida, olhando-nos, opressos pela
tristeza, disse: Sepultai vossa mãe. Eu me calava e retinha as
lágrimas. Mas meu irmão falou qualquer coisa assim que seria melhor
não morrer em terra estranha, mas na pátria. Ouvindo isto, ansiosa,
censurando-o como olhar por pensar assim, voltou-se para mim: Vê o
que diz. Depois falou a ambos: Ponde este corpo em qualquer lugar.
Não vos preocupeis com ele. Só vos peço que vos lembreis de mim no
altar de Deus, onde quer que estiverdes. Terminando como pôde de
falar, calou-se e continuou a sofrer com o agravamento da doença.
Finalmente, no nono dia da sua doença, aos cinqüenta e seis anos de
idade e no trigésimo terceiro da minha vida, aquela alma piedosa e
santa libertou-se do corpo.
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